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Série Apito de Ouro – Por Marco Antonio Tavares

Todas as pessoas possuem uma história. Muitas são contadas de forma a dar uma conotação heroica, outras de terror, outras a despertar o carinho e admiração. As nossas, objetiva conhecer alguns personagens que ajudaram a construir um cenário que muitas vezes não são levados em conta, por não serem personagens que mexam com as emoções, que proporcionam choro ou mesmo, convulsões de alegria ou tristeza. Aqui, os envolvidos tem que tratar e conviver com a razão. Construiremos aqui uma série com o verdadeiro APITO DE OURO, onde contaremos histórias de árbitros de futebol, como forma a homenagear essas pessoas. E essas histórias deveriam começar assim….era uma vez…

Getúlio Barbosa de Souza Junior

Em junho de 1956 nascia Getúlio Barbosa de Souza Junior, na cidade de Dourados Mato Grosso do Sul. Torcedor declarado pelo Santos Futebol de Clube, militou por 22 anos em uma área que não podia torcer, árbitro de futebol.

“Naquela época, anos 80, futebol tinha muitas coisas fora do campo, dirigentes eram fanáticos mais que os torcedores e isso começava lá nas categorias de base e no amadorzão e árbitro tinha que ser bravo, cara feia e se impor. Assim que comecei minha carreira, fui escalado no campo do Bordon, uma das equipes clássicas de Campo Grande, cheguei e coloquei o revolver em cima da mesa e chamei os capitães e expliquei que aquele era o meu cartão amarelo e vermelho, todos entenderam o recado. Por ser sargento do exército tinha a liberação de andar armado”.

Sua carreira teve início em 1982, quando seu mestre e tutor Lourival Ribeiro da Paixão o convidou a participar do curso de formação, no Clube União de Sargentos, em Campo Grande. Já em 1984 apitou o primeiro jogo profissional entre EC Comercial x Ubiratan EC e foram mais de 10 finais do Estadual de MS e 2 finais em MT.

Em 1986 ingressa no Quadro de Árbitros da CBF encerrando sua carreira nacional em 2001 no jogo da Série A (apitou 20 jogos nesta série) entre Coritiba x Gama tendo como auxiliares Elvecio Zequeto e Paulino Mariano. De 1991 a 1996 foi ostentou o escudo de ASPIRANTE FIFA, não ingressando no quadro da entidade por não dominar o idioma inglês.

A carreira foi marcada por um prazer enorme, de ter apitado um clássico entre São Paulo e Palmeiras com 40 mil torcedores e o jogo mais difícil, entre Noroeste x Joinville, pela Série B, onde até sair do estádio se tornou uma tarefa difícil. Ambos sem nenhuma falha dentro das quatro linhas.

“Equívocos também foram cometidos. Em 1995, jogo pela Copa do Brasil, no antigo Verdão em Cuiabá – MT, Operário de Várzea Grande x Corinthians expulsei um jogador do time local, e ele sorrateiramente entrou na barreira e não saiu do campo. Na época, o técnico era Mário Sergio, falecido no acidente da Chape e o capitão era o Tupãzinho, que depois veio a jogar no Cene de Campo Grande. Eles me alertaram e gesticulavam muito. Aí pensei, tem coisa errada, e fiz a tarefa de casa, contei os jogadores em campo. Corrigido, seguiu o jogo”.

Cometeu algumas doiduras. Em um jogo entre Corumbaense e Operário, um clássico, não tinha policiamento, e Corumbá sempre foi muito difícil apitar. Chamou os capitães Negão pelo Corumbaense e Celso pelo Operário e disse que eles seriam os policiais naquele jogo, se houvesse uma gracinha, pegaria a bola e iria embora e fim de jogo. A partida transcorreu normalmente e ele pôde sair do estádio em paz.

Todo pai tem o sonho que seu filho se torne um jogador de futebol. Getúlio sonhou com o filho árbitro e conseguiu. Murilo Charão, um dos três filho, se tornou assistente CBF (também conhecido como bandeirinha) e fez uma carreira brilhante nos jogos nacionais, seguindo a carreira do pai, depois desistiu da carreira para abraçar a profissão de professor de educação física e ensinar nossos pequenos. Conta que desde criança viajava com o pai e lembra da caravan do també árbitro Luiz Dávila, onde ia no banco traseiro dormindo e assistia os jogos do pai e daí a paixão por arbitragem.

Tantas experiências vividas o levaram a treinar novos árbitros e assim se tornou instrutor da FFMS, depois observador da CBF… “É muito triste assistir um jogo e ver o árbitro cometer erros. Hoje pela força da televisão que está em todo local do campo, o erros ficam mais evidenciados e isso leva a equipe de arbitragem a ter que se preparar melhor, tanto física como tecnicamente. A tecnologia chegou para ajudar nesse quesito, temos as vídeos aulas, análise de desempenho, tática de posicionamento e nunca esquecer a mãe de todas…a regra de futebol…conhecer as 17 regras é essencial a sobrevivência de qualquer postulante a apitador”.

Nesses anos todos, ajudou a impulsionar a Copa Assomassul, criada em 1997 pelos desportistas Enelvo, Rosseto, Antonio Paiva e Gerson Claro, primeiramente apitando os jogos, usando sua experiência e sua figura conhecida dos atletas e depois coordenando a competição até hoje. “Quero deixar meu agradecimento ao Lourival Ribeiro da Paixão e Sidinei Barbosa que foram os diretores de arbitragem da Federação e sempre acreditaram no meu trabalho. Também aos Presidentes Heldir Ferreira Paniago, Ari Rodrigues (já falecido) e Francisco Cezário de Oliveira, que deram sustentação as minhas atuações. O futebol tornou minha vida feliz e isso não tem preço”.

Marco Antonio Tavares
Professor de Educação Física e
Vice-Presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul