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Série Apito de Ouro – Por Marco Antonio Tavares


Todas as pessoas possuem uma história. Muitas são contadas de forma a dar uma conotação heroica, outras de terror, outras a despertar o carinho e admiração. As nossas, objetiva conhecer alguns personagens que ajudaram a construir um cenário que muitas vezes não são levados em conta, por não serem personagens que mexam com as emoções, que proporcionam choro ou mesmo, convulsões de alegria ou tristeza. Aqui, os envolvidos tem que tratar e conviver com a razão. Construiremos aqui uma série com o verdadeiro APITO DE OURO, onde contaremos histórias de árbitros, como forma a homenagear essas pessoas. E essas histórias deveriam começar assim….era uma vez…

 Eduardo Gonçalves da Cruz

Serei o primeiro Sul-Mato-Grossense a ingressar no Quadro da FIFA, claro, daqui uns dias com o recebimento do escudo.  Embarquei em um voo e serão 18 horas de Genebra – Suíça até São Paulo, com escala em Lisboa. Um misto de alegria e satisfação em ter um objetivo atingido após 13 anos de carreira.

Nesse retorno ao Brasil, após ter concluido o Curso da UEFA – União Européia de Futebol para árbitros promissores, me recordo dos passos que me levaram a estar nessa situação de êxtase, mas de extrema responsabilidade com muitos que me ajudaram na carreira. Em 2014 houve uma procura pela Comissão de Arbitragem da CBF em árbitros que se sentiam seguros no idioma inglês e o nosso trio foi selecionado. Na sequência tivemos uma entrevista com a Comissão da CBF e uma Norte-Americana para avaliação do idioma em que teríamos os treinamentos na UEFA, fomos aprovados. Ali na verdade começava a nossa jornada. Dia a dia teríamos a tarefa de trabalhar os pilares da boa arbitragem: técnico, físico, mental e social. E começamos a ser avaliados em 2 jogos do Brasileiro da Série A de 2014. Logo chegou março de 2015 e fomos para a Suíça, uma cidade próxima 10 km de Genebra, Nion, para trabalharmos as qualidades e necessidades que tínhamos de adquirir. Foi-nos proposto um programa de 6 meses que seríamos avaliados a distância nos treinamentos e jogos que faríamos.

Sempre me interessei por futebol, apesar de nunca ter sido um exímio jogador. Estudava na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde me formei em Engenharia Civil e posteriormente em Engenharia Elétrica e sempre assistia aos jogos no Estádio Morenão. Daí, a frequentar um curso de formação de árbitros foi uma decisão até fácil. Mas de fácil minha carreira não teve nada.

Foram muitas partidas nas competições amadoras até estrear no profissional em 2004. Daí mais 4 anos ralando no Estadual profissional de MS até em 2008 ingressar no Quadro de Assistentes da CBF e estrear no Brasileiro da Série C, em casa, no Estádio Morenão no jogo entre Operário – MS x Mixto – MT. A estreia na Série B veio alguns dias depois no estádio Elmo Serejo em Taguatinga – DF entre Brasiliense x Fortaleza. Nisso me perguntava, quando chegaria aos jogos da série A, em estádios lotados de torcedores, entre os grandes clubes brasileiros.

Sinto o avião tocar a pista e tomar o caminho do desembarque do aeroporto Humberto Delgado, chegamos a Lisboa. Aqui, a comunicação em português se torna bem mais fácil que as constantes conversas no idioma inglês dos últimos 15 dias. Isso foi inclusive o diferencial para a minha escolha e de meus companheiros de viagem Wagner Reway de Mato Grosso e Danilo Manis de São Paulo para frequentarmos o CORE – Centre of Refereeing Excellence por 2 oportunidades, uma em março de 2015 outra em setembro do mesmo ano. Mas esse curso na verdade começa bem antes disso, começa por meu aperfeiçoamento do idioma inglês, onde fiquei 3 meses na Austrália me aperfeiçoando, e tinha a certeza que isso algum dia me ajudaria, como ajudou.

“O Dudu, apesar de não sermos próximos antes da ida pra Suíça, nos tornamos grandes amigos pela sua conduta profissional e humana. Como assistente ele é super competente e sua margem de erro é muito pequena, isso se deve a sua dedicação nos treinamentos e estudos e ele consegue ser incrível como companheiro fora do campo, sempre próximo e atencioso. Foi uma grande conquista que o futebol me deu nos últimos anos e ganhou Mato Grosso do Sul com a sua qualificação” afirma Wagner Rewey, Árbitro FIFA.

Ouço chamar nosso voo pelo sistema de som do aeroporto, mais 10 horas e chegaremos ao Brasil. Me recordo da primeira final do Estadual Série A de MS em 2008 na cidade de Ivinhema, (terra de outro assistente CBF Adnilson Pinheiro), depois disso foram mais 8 em MS e mais duas finais fora do meu Estado, Minas 2016 e Ceará em 2018.

Em 2010 veio aquela tão esperada partida da Série A do Brasileirão com o jogo entre Grêmio Prudente x Internacional. Após essa, foram mais 59 jogos nessa série e um jogo como VAR. O cansaço toma conta, e quase adormecendo me recordo de dois jogos do curso que acabamos de fazer, um na França, Belfort x Troyes e outro na Suíça entre Aigle x Collex-Bossy. Uma experiência fantástica. Quando acordo já estamos em solo brasileiro.

Me despeço do Wagner que seguirá para Cuiabá no Mato Grosso e do Danilo que mora na cidade de desembarque e sigo para embarcar de volta a Campo Grande. Depois disso, fiz a estreia pela Conmebol na partida entre Olímpia x Deportivo Táchira em abril de 2016, em Assunção – Paraguai, em partida válida pela Copa Libertadores da América daquele ano. Eduardo atuou no clássico das maiores torcidas brasileiras em 2017, Corinthians x Flamengo e mantem seu currículo recheado de jogos, no Sul-Mato-Grossense em 191 jogos, no Brasileiro da Série B 66 jogos, Série C 26 jogos, Série D 23 jogos, Copa do Brasil 21 e muitas outra competições somando quase 500 partidas. Mas mantem um compromisso consigo, não importa onde e qual a importância do jogo que atue, manter o nível de excelência, o que o diferenciou na carreira de árbitro de futebol.

Marco Antonio Tavares
Professor de Educação Física e
Vice-Presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul