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Série Apito de Ouro – Por Marco Antonio Tavares

Todas as pessoas possuem uma história. Muitas são contadas de forma a dar uma conotação heroica, outras de terror, outras a despertar o carinho e admiração. As nossas, objetiva conhecer alguns personagens que ajudaram a construir um cenário que muitas vezes não são levados em conta, por não serem personagens que mexam com as emoções, que proporcionam choro ou mesmo, convulsões de alegria ou tristeza. Aqui, os envolvidos tem que tratar e conviver com a razão. Construiremos aqui uma série com o verdadeiro APITO DE OURO, onde contaremos histórias de árbitros de futebol, como forma a homenagear essas pessoas. E essas histórias deveriam começar assim….era uma vez…

 Antonio Flavio Alves

Pantaneiro. Assim ele se descreve por ter nascido além da última ponte de Rio Negro, já em Aquidauana. Seu pai, gerente de fazenda no pantanal, onde viveu até os 13 anos, vindo morar em Campo Grande, estudou no Colégio Perpétuo Socorro. Desde cedo envolvido no esporte, jogador ruim, optou pela arbitragem em 1982, onde participou do curso de formação, quando o presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul era o lendário Alfredo Zamlutti Junior e o seu instrutor, depois tutor e amigo Lourival Ribeiro da Paixão.

Certa feita, escalado para apitar o jogo entre Operário de Ponta Grossa e Juventus, no estádio Germano Krugger, um verdadeiro temporal se abateu sobre a cidade e o jogo teve que ser adiado. Como não tinha data certa a ser realizado, fez uma viagem a Jardim – MS para atuar em um campeonato de futsal e a CBF remarcou o jogo e naquela época a escala era feito através de telex ou telefone. Como estava fora, a secretária do Diretor de arbitragem da CBF deixou um recado na então empresa de telefonia da cidade e foram atrás dele para repassar o recado. Voltou a apitar o jogo em Ponta Grossa tendo como auxiliares Marcos Augusto e Roberto Colman.

Fato lamentável na carreira foi uma agressão sofrida no estádio Douradão, partida válida pela semifinal do Estadual de 1989 entre os clubes Ubiratan EC x EC Comercial, onde bandidos invadiram o gramado e covardemente o agrediram. “Ali foi tudo armado, mas serviu para me motivar mais na carreira e pude decolar para grandes jogos aqui no estado e no brasileirão” afirma Flavio.

Sempre foi um cara de amizade, e construiu isso ao longo dos anos. Apesar de sua qualidade como árbitro, as escalas eram muito disputadas pelo grupo que havia se formado com grande número e qualidade. Na quarta-feira todos ficavam apreensivos e torciam para serem escalados, alguns achando que mereciam mais que outros. Divulgado os trios que apitariam os jogos, todos se reuniam e se confraternizavam e muitos iam aos estádios para prestigiar os amigos.

Como também era uma pessoa de língua afiada, ganhou a alcunha de cobrinha e que carrega até hoje. “Sempre tive muitos amigos, mas guardo uma lembrança com muito carinho. Toda vez que ia apitar no Morenão, tinha um grupo desses amigos que iam torcer por mim, Bira, Godofredo, Marquinhos e André e esperavam eu subir do vestiário e começavam a gritar: cobrinha ladrão, pilantra, e outros palavrões e só paravam quando eu acenava pra eles, acho que queriam a glória, kkkk”.

“O momento mais difícil da carreira é quando a gente decide parar de apitar, os anos anteriores, os amigos, as viagens, os jogos, tudo isso fica martelando na cabeça e ai chega o dia final. Para mim, esse dia chegou em 1997, no jogo entre Operário FC x Cene. Deixei de ir ao estádio pois sempre achava que poderia ter levado mais um tempo a carreira. Aí percebemos que não, deveríamos ter parado mesmo”.

“O que facilitou tudo isso foi eu ter uma carreira muito promissora no futsal. Fazia parte da elite da arbitragem da modalidade, apitava as melhores competições, incluindo brasileiros e a Copa Morena, maior competição de MS. Isso fez doer menos”.

“Tínhamos um grupo que se tornaram amigos e compadres tal era a proximidade. Getulio Barbosa, Roberto Colman, Marcos Augusto, Moacir Barbosa, Eliezer Carvalho, Paulino Mariano, Hélio Correia e muitos outros, mas esse grupo era unido e liderado por três pessoas muito chegadas, o Paixão velho (Lourival Ribeiro da Paixão), Alpineu Ramão e Vitor Pinto Barbosa”.

“Amauri Ponciano, era o Diretor de Arbitragem e nos foi muito útil, pois veio do Rio de Janeiro e nos dava todas as dicas dos caminhos a seguir no quadro nacional”. Outro que contribuiu com a carreira foi o Coronel Sidinei Barbosa, que o lançou no Quadro Nacional.

Sentado embaixo de um pé de manga ao lado do filho Douglas, o mais velho dos três que tem com Dona Maria Cardozo, carinhosamente chamada de mãe, relembra os grandes jogos da carreira, entre eles 9 Comerários (clássico entre Comercial x Operário) em Campo Grande, uma final em Cuiabá, no Estadual de Mato Grosso, naquela época eles importavam os árbitros daqui. Douglas entra na conversa e fala que tem muito orgulho do pai, e grande parte do sustento da família foi obtido através das taxas que recebia e que na Copa Morena de futsal (a maior competição no MS) ele era sempre requisitado pelas equipes por seu elevado nível de arbitragem, mas sempre sentia a ausência dele nos aniversários, festinhas de família e até mesmo na escola, mas que hoje, sabe que tudo valeu a pena.

Hoje, Antonio Flavio Alves ou AFA como é chamado pelos seus árbitros novatos, exerce um cargo na Comissão de Arbitragem da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul e segue passando suas experiências que viveu dentro dos gramados a eles nas pré-temporadas, nas observações e nos encontros na beira da churrasqueira ou dos fogões da vida, pois sempre foi um bom gourmet. Segue com a linga afiada, fazendo jus ao apelido de cobrinha.

Marco Antonio Tavares
Professor de Educação Física e
Vice-Presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul