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Série Apito de Ouro – Por Marco Antonio Tavares

Todas as pessoas possuem uma história. Muitas são contadas de forma a dar uma conotação heroica, outras de terror, outras a despertar o carinho e admiração. As nossas, objetiva conhecer alguns personagens que ajudaram a construir um cenário que muitas vezes não são levados em conta, por não serem personagens que mexam com as emoções, que proporcionam choro ou mesmo, convulsões de alegria ou tristeza. Aqui, os envolvidos tem que tratar e conviver com a razão. Construiremos aqui uma série com o verdadeiro APITO DE OURO, onde contaremos histórias de árbitros de futebol, como forma a homenagear essas pessoas. E essas histórias deveriam começar assim….era uma vez…

Paulo Henrique Bortolusso Sampaio

Pego o celular para gravar um áudio com informações da minha carreira na arbitragem para a série Apito de Ouro, homenagem aos árbitros de futebol e ordeno meus pensamentos para estabelecer uma linha do tempo de tudo que vivi nesse ambiente. Sou Paulo Henrique Bortolusso Sampaio, nascido em Dourados, mas resido em Naviraí – MS desde os 6 anos, onde cresci, estudei e iniciei meu sonho de ser jogador de futebol. Até cheguei ao Avaí – SC, mas retornei e fui jogar no amador.

Revejo a gravação e acho que está dentro daquilo que quero, assim, sigo relembrando que meu amigo Soares Filho era o Secretário Municipal de Esporte isso em 2004 e me pediu ajuda para atuar como árbitro no campeonato amador da cidade pois estava com enormes dificuldades para solucionar esse problema. Acredito que aí foi minha entrada para o universo da arbitragem, ainda que meio sem entender o contexto da coisa.

A carreira seguiu com outras competições e achei que havia chegado a hora de me qualificar de verdade e abraçar a profissão de forma profissional, foi o que fiz, me inscrevi em um curso oficial da Federação em 2005 com os instrutores Getúlio Barbosa, Antonio Flavio e Roberto Colmam e a dificuldade era viajar para Dourados, distante 138 km todo final de semana. Mas valeu a pena, fiz grande amigos, Ezequiel, Piçula, Lupato, Ernani, Mareco, Lupato e tantos outros que recebo em casa até hoje.

Paro novamente a gravação e deixo fluir as lembranças…apitar no interior não tem nada de fácil, poucas competições, tem que apitar futebol de 7, e isso te deixa distante das competições profissionais, mas bem ao lado, em Ivinhema, tinha o exemplo do Adnilson Pinheiro que havia chegado ao Quadro da CBF e se ele chegou, seria possível eu chegar também.

Retomo a gravação no celular, e relembro que em 2005 fui escalado para apitar a Copa Assomasul, que apesar de ser uma competição amadora, o coordenador era o Getúlio, que também era instrutor da Federação de Futebol de MS e ali vi a oportunidade de conseguir mostrar as minhas qualidades de árbitro, além do que estava apitando no estádio de Eldorado, local que sempre apitei os jogos do amador, praticamente em casa e bem a vontade. Me saí bem, fui convidado a fazer o teste da FFMS e passei a integrar o Quadro Estadual. Tinha galgado um bom degrau na carreira.

O Paulinho vivia me expulsando nos jogos pois sempre fui meio bocudo. Mas sempre foi correto e dedicado e isso me levou a nomeá-lo como Secretário de Esportes, tal era sua lisura e o carinho que os desportistas da cidade tinham por ele” afirma Leo Matos, ex-Prefeito de Naviraí.

A primeira escala em jogo profissional foi em Mundo Novo entre Urso x 7 de Setembro, em 2016, com os assistentes Adnilson Pinheiro e Ivanilton Bandeira. “Nesse jogo de estreia o Paulinho foi muito bem, como fazia em todos os jogos, mas é uma tradição que o dinheiro da taxa de arbitragem no primeiro jogo nós gastávamos normalmente em cerveja para comemorar. Ao voltarmos, paramos em Naviraí onde ele morava, comemos e bebemos e na despedida ele perguntou: -e minha taxa você pegou? Respondi: -você acabou de beber ela todinha, foi aquela gargalhada de todos e ele com uma cara que havia perdido a piada” conta Adnilson.

Os árbitros do interior sempre sonham em apitar um jogo no estádio Morenão, por ser para todos o maior palco do futebol em nosso Estado. Quando recebi a escala para apitar o jogo entre Cene x Umjec de Bonito me preparei durante toda a semana. Quando cheguei no estacionamento quem me recebeu foi o Diretor de Arbitragem, Coronel Sidinei e me deu vários conselhos, mas o que mais ficou evidente foi o de não aplicar muitos cartões, segurar o jogo na conversa com os jogadores. Parecia conselho de pai, com 5 minutos de jogo já tinha mostrado o primeiro cartão que ao final somaram 12, sendo 4 vermelhos. No meu conceito tinha acabado minha carreira. Depois de 15 dias cumpri minha segunda escala em Campo Grande com um clássico entre Operário VF x CD 7 de Setembro.

Gravar sua própria história não é nada fácil, quase tão difícil como apitar, eu destacaria as duas finais da Série B em 2008 entre Itaporã x EC Campo Grande e em 2009 entre Urso x Chapadão, tendo inclusive recebido o prêmio de árbitro destaque em 2008.

A amizade entre nós era tanta que um dia fomos fazer um jogo em Naviraí e tivemos dois almoços, um preparado pelo Piçula e outro na casa do Paulinho. Para não desagradar nenhum, comemos os dois. Duro mesmo foi correr durante o jogo” relembra Ezequiel Barbosa.

Também tive a oportunidade de exercer a colaboração no Sindicato de Árbitros, Delegacia de Naviraí por 8 anos e ter sempre o apoio de dois diretores da Federação e que sempre me trataram com muita cortesia e respeito pelo trabalho que desenvolvi na arbitragem, Cel Sidinei Barbosa e o Cel Alcântara. Gratidão sempre.

Hoje atuo no ramo da alimentação, mas o esporte corre na minha veia como um energético, cada partida que assisto na tv, me transporto para dentro do gramado e segue o jogo.


Marco Antonio Tavares
Professor de Educação Física e
Vice-Presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul